Aqui na agência já começaram os
trabalhos para campanhas políticas. E como na correria todo mundo faz de tudo,
lá fui eu atender os vereadores em uma cidade do Tocantins, apesar de ser
redatora.
Eles me contavam um pouco de sua
história, de como decidiram se candidatar, as experiências em cargos públicos,
etc. Biografia, currículo ou briefing, chamem como preferirem, o fato é que foi
a melhor coisa que eu fiz. Não pelo trabalho em si (continuo preferindo
escrever aqui na sala, sem contato direto com esse mundo de gente, que acaba me
deixando pra lá de desorientada), mas pela diversidade de histórias que ouvi.
Umas engraçadas, outras bizarras, outras que eu ficava me perguntando que raios
aquele filho de uma boa mãe tava fazendo ali, se candidatando para um cargo
público.
Foi no meio dos mais de 50
candidatos daquele dia que ouvi uma história que me sensibilizou.
Não estou aqui fazendo campanha pra
ninguém, tampouco vou dizer o nome, cidade ou partido dessa personagem. Só
estou relatando um depoimento peculiar.
Era finalzinho da manhã. A hora
do almoço já se aproximava, segundo roncos do meu estômago. Já tinha ouvido
histórias vazias o suficiente para ficar desiludida com os candidatos até a
próxima eleição, então senta na minha frente uma senhorinha. Cabelos brancos, magra,
baixinha. O tom de voz era ainda mais baixo que ela. Lembrei da minha avó, que deixei lá nas Minas
Gerais, e da saudade que eu estou dela.
Com uma lucidez de dar inveja e vigor
de quem tem 20 anos, a mulher, nascida e criada na própria cidade, contava com
detalhes algumas passagens históricas do município, as quais presenciou. Já foi
professora de um bocado de matérias: português, geografia, desenho e educação
física. Brinquei que ele era muito inteligente. Acho que hoje a gente tá tão
acostumado com a especialização em uma coisa só que estranha quando encontra
alguém que sabe de tudo. Ela contou inclusive, toda orgulhosa, que foi
professora de desenho de todos os arquitetos da cidade. Hoje ela se dedica a
dar aulas de ginástica para a terceira idade, e a cuidar dos idosos de uma
forma geral. Também se formou em psicologia e psicopedagogia (ufa! Quanta coisa!).
Falou da sua vida difícil e de
como superou os obstáculos e conciliou os estudos com a atividade na lavoura.
Muito disso com o apoio da mãe, a quem fez questão de dar um espaço em sua
biografia “coloca aí o nome dela, por favor, eu quero que escreva o nome dela e
do meu pai”. E lá estavam os olhos da senhorinha cheios de lágrimas, que escorriam
enquanto ela contava que o apelido do pai era “óculos de pau”, porque usou esse
material para fazer o conserto, na falta de dinheiro para comprar um novo.
Segurei as mãos dela, na tentativa de acalmá-la. Quase choro também.
Continuamos a entrevista. Contou
que foi a fundadora da APAE daquele município, depois de viver de perto o drama
da neta, que nasceu com a síndrome. “fui eu quem cuidei do tratamento
psicológico dela. Ela não tem vergonha, não se acha pior que ninguém, não anda
de cabeça baixa igual a maioria dos portadores da síndrome. É uma jovem feliz e
sadia” dizia a avó coruja, enquanto explicava que queria fazer o mesmo pelos
demais portadores de Down da cidade.
Eu comentei, no meio da conversa,
que a vida dela dava um livro, sem saber que já escrevera um. “fala sobre a
vida, sobre a família e sobre a criação do estado do Tocantins” ditava a
senhora, pausadamente. Ainda descobri que ela faz parte da Academia de Letras
da cidade, 13ª cadeira, como ela bem lembrou, rindo.
A essa altura, eu já estava
impressionada. E quando achei que acabaram as surpresas, perguntei, brincando,
qual era o segredo de tanta vitalidade. E ela me respondeu sorrindo “sou adepta
da urinoterapia”. Achei estranho e não sabia qual reação esboçar, apenas pedí que
ela me contasse mais sobre aquilo. “é anticorpo natural, me revigora e tira
todas as impurezas”. Se é isso que funciona eu não sei, mas que ela é realmente
uma das senhoras mais jovens que conheci, é verdade!
No final da entrevista, ainda me
presenteou com o livro que ela escreveu e uma dedicatória carinhosa “para uma
querida leitora”.
Em meio a algumas histórias de candidatos vazios e ambições grandes, pessoas como essa me emocionaram e trouxeram esperança de um futuro melhor e de uma política mais honesta, com gente que realmente merece à frente da população. Se eu fosse da cidade dela, o meu
voto aquela senhora já tinha garantido.
Bem sei o que ouvir varias e varias histórias, mas uma como essa é rara infelizmente!! Vc pode se considerar uma sortuda!! Há e pode começar a praticar a urinoterapia tb..kkkkk
ResponderExcluirBem, deu para constatar que ela não pretendia te vender um frasquinho do xixi milagroso.
ResponderExcluirAdorei o texto.
Vou ler mais
Muito bacana esse texto, Ana.
ResponderExcluirFiquei curiosa para ler o livro dela.
Bjo