20101218

ANÁFORA


Ana cansou.

Ana encheu o saco.

Ana só ouve ‘sou bom’, ‘eu sei’, ‘eu faço’, ‘sou foda’.

E quando a Ana quer falar? ‘depois você me conta’.

Ana não quer mais.

Fica pra próxima.

Ana(tá)fora.

20101217

VIDA




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condendedicativexperimentampli
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pir
AÇÃO



*Texto feito para o desafio 'PIRAÇÃO' do PSVSite. Publicado em set/10

20101126

Auréola



Era vistosa e dourada.
O Sol, quando batia nela, irradiava uma luz branca forte o bastante para irritar os olhos.

O truque ludibriava até as almas mais espertas, impedindo-as de perceberem que aquilo que o iluminar encobrira era, na verdade, um par de chifres vermelhos e pontudos.

20101123

Mercearia




- Oi, me dá um pacotinho de Amor, por favor?

Procurei, procurei. Olhei em todas as gôndolas.
Nem lembro a última vez que me pediram Amor, mas sabia que tinha aqui em algum lugar.
Achei. Estava lá no fundo, escondido atrás de uma caixa de Orgulho em Pó.
Entreguei o pacote meio empoeirado pra ela, que sorriu, agradeceu e foi embora.
Estranho. Em outros tempos, Amor nem parava nas prateleiras.

20101118

A (P) ELO



AMARELO
AMAR É
AMAR
ELO

A eterna desavença entre o beija flor e o bem-te-vi



Ela é beija-flor
na espreita do cheiro
exala paixão
exala amor

Mas sou bem-te-vi
eu vi teu anseio
com tudo ela veio
nunca-mais-te-vi

Dia de chuva


Chove tão forte
Lá fora e aqui dentro
Não sei se lamento
Ou remo pro Norte

Te juro eu tentei
Costurar a nuvem
Como eu costurei
Minh’alma pra sorte

20101116

Das Jujubas


Se as situações indescritíveis da vida tivessem que se materializar em algo, com certeza seria em um pacote de jujubas daqueles bem coloridos. Jujubas são um apanhado de coisas boas do mundo. São sentimentos. São estados de espírito (estado de espírito tem cor, sabia? Cor de jujuba).

Jujuba vermelha, por exemplo, é borboleta na barriga quando a gente tá apaixonado, é chocolate na TPM, montanha-russa que vira de cabeça pra baixo. É aquela travessura que você sabe que não pode fazer, mas faz mesmo assim. Jujubas vermelhas são sempre as primeiras a sumirem do pacote, talvez porque convidem pras emoções mais fortes. Não sei se a gente que as chama, ou elas que chamam a gente.

Jujuba roxa é tão gostosa que parece doce feito por vó (tenho pra mim que vovós compartilham de um tempero mágico que faz tudo ficar de-li-ci-o-so). É risada de criança, é o bater de asas dos anjos. É colo de mãe e cafuné do pai. Jujubas roxas são mais bem saboreadas quando intercaladas com as vermelhas. Elas dão conforto e segurança – e isso é tudo que a gente precisa pra dosar a adrenalina das jujubas anteriores sem, no entanto, podá-las.

Já a jujuba amarela tem gostinho de fim de semana com sol. É catar conchinha na praia, churrasco e piscina com os amigos. É deitar na grama e procurar desenho na nuvem, dar banho no cachorro, brincar de fazer bolha de sabão. Jujuba amarela é pau pra toda obra. É alegria em pedacinhos, é remédio pra alma.

As jujubas verdes são as renegadas do pacote. Aquelas que a gente deixa por último (mas que não deixa de mandar pra dentro). É aquela situação chata que a gente enfrenta, mas que, depois que passa, vê que não foi tão ruim nem tão difícil assim. É um dia azedo de trabalho que traz mais conhecimento e experiência. É a DR com o namorado que acaba melhorando a relação. É perceber que tudo tem uma razão de ser, e que isso faz parte da vida. É superar os obstáculos pra então poder abrir um novo pacote, cheio de novas jujubas coloridas.